segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Fazer da nostalgia um verbo | Faire de la nostalgie un verbe

  

riviére Ain


Sempre gostei de investigar as palavras.  Hoje andei com esta na cabeça, não me largou: nostalgia.

Fui ver o seu significado ao dicionário. Sim, um pouco patético, todos sabemos o que é a nostalgia. Mas eu queria saber mais.

Constatei, como se fosse a primeira vez, que tem numa das suas acepções a concreta “tristeza profunda causada pelo afastamento da terra natal”. Depois de lida, esta especificidade pareceu-me tão óbvia que eu tinha de saber. E assomou-me à consciência um pouco de vergonha desta minha incurável incapacidade para memorizar conhecimentos tão importantes. 

A sua origem etimológica remonta ao grego, resultando da junção dos étimos nóstos (regresso a casa, viagem) +  álgos (dor). Viagem, afastamento, dor. 

E ali estava eu, a despedir-me de todas as coisas que marcaram o meu nascimento e os meus dois primeiros anos de vida (a maternidade, a primeira casa, as primeiras montanhas, os primeiros rios, as primeiras pedras), e a ler coisas avulsas sobre a nostalgia: sobre como já foi considerada uma condição médica pela sua associação à melancolia; sobre como é abstracta e idealizada, por oposição à saudade; sobre como está associada a emissões sonoras de baixa frequência (espantoso!) e de como pode roçar a retrofilia, o que me pareceu bastante assustador, sendo que não é certamente deste tipo a minha nostalgia. 

De repente, achei que podia escrever um tratado sobre este estado (quando aguda?) ou condição (quando crónica?). Reconstituir, até, a sua história no contexto da humanidade. Explorar o seu teor, destrinçá-lo, e distingui-la, por exemplo, da melancolia, essa “patologia” mais grave (?) de que também sofro. 

Seja como for, o que sobra deste emaranhado de divagações é que a nostalgia (assim como a melancolia), não será para mim nunca um lugar de escuridão. Pode fazer-me rebentar em lágrimas, como foi o caso, mas o que fica depois é a luz de ter os olhos abertos e uma sensação de dever cumprido perante a urgência de cicatrizar os golpes da alma. 

Portanto, oficializo hoje, para mim, a nostalgia como um verbo que arde e cura, e sempre que for preciso hei-de “nostalgicar”.  

Nota final: amanhã não regresso a casa, serei apenas casa noutro lugar. 


*


J'ai toujours aimé faire des recherches sur les mots.  Aujourd'hui, j'avais celui-ci en tête : nostalgie.

J'ai cherché sa signification dans le dictionnaire. Oui, c'est un peu pathétique, nous savons tous ce qu'est la nostalgie. Mais j'ai voulu en savoir plus.

J'ai réalisé, comme si c'était la première fois, que l'une de ses significations est la « profonde tristesse causée par l'éloignement de la patrie ». Après avoir lu cette spécificité, il m'a semblé évident que je devais savoir. Et j'ai eu un peu honte de mon incapacité incurable à mémoriser des connaissances aussi importantes. 

Son origine étymologique remonte au grec, résultant de la combinaison des mots nóstos (retour, voyage) + álgos (douleur). Voyage, distance, douleur. 

Et j'étais là, en train de dire adieu à tout ce qui avait marqué ma naissance et mes deux premières années de vie (a maternité, la première maison, les premières montagnes, les premières rivières et les premières pierres), et de lire des choses aléatoires sur la nostalgie : comment elle était autrefois considérée comme une condition médicale en raison de son association avec la mélancolie ; à quel point elle est abstraite et idéalisée, contrairement à la nostalgie ; comment elle est associée aux émissions sonores de basse fréquence (étonnant !) et comment elle peut être à la limite du rétrospectif. ) et qu'elle peut être à la limite de la rétrophilie, ce que j'ai trouvé assez effrayant, même si la nostalgie n'est certainement pas mon genre. 

Soudain, je me suis dit que je pourrais écrire un traité sur cet état (lorsqu'il est aigu ?) ou cette condition (lorsqu'elle est chronique ?). Et même reconstituer son histoire dans le contexte de l'humanité. Explorer son contenu, le distinguer, par exemple, de la mélancolie, cette «pathologie» plus grave (?) dont je souffre aussi. 

En tout cas, ce qui reste de ce fatras de divagations, c'est que la nostalgie (comme la mélancolie) ne sera jamais pour moi un lieu d'obscurité. Elle peut me faire fondre en larmes, comme ce fut le cas ici, mais ce qui reste après, c'est la lumière d'avoir les yeux ouverts et un sentiment de plénitude face à l'urgence de soigner les coups de l'âme. 

Alors aujourd'hui, j'officialise la nostalgie comme un verbe qui brûle et qui guérit, et je «nostalgise» chaque fois que j'en ai besoin.  

Note finale : je ne rentrerai pas chez moi demain, je serai simplement chez moi quelque part ailleurs. 




domingo, 8 de setembro de 2024

Pasteur era humano | Pasteur était humain



 O ponto alto do meu dia: a visita à Maison Pasteur, em Airbois, uma vila muito catita a cerca de 26 km de Champagnole. 

Louis Pasteur nasceu em Dole, numa outra vila, não muito distante, também no departamento de Jura, mas os pais mudaram-se para Airbois, para aquela mesma casa, contígua ao rio Cuisance, quando Pasteur tinha apenas 8 anos. Aí viveu até aos 17, tendo saído para estudar em Bésançon, cidade que também ficaria marcada pela passagem de Pasteur, existindo lá, por exemplo, uma escola com o seu nome. Prosseguiu depois os estudos em Dijon e Paris. 

O que quero dizer-vos sobre Pasteur não tem nada que ver com os seus feitos enquanto cientista, quero antes falar-vos do homem que, por acaso, até tinha uma irmã chamada Virginie; um homem com um “coração de carne”, como diria Saramago, e como terá sangrado enquanto existiu, desde logo pela morte de três dos seus cinco filhos. O quarto de Cécile, que faleceu com 12 anos já naquela casa, é um dos compartimentos que permanecem preservados na casa de Airbois, para onde regressou com Marie em 1865, depois da morte dos pais. Nessa altura, Louis e Marie haviam já perdido Jeanne e Camile, que faleceram com 9 e 2 anos respectivamente. Todas as meninas sucumbiram à febre tifóide, o que terá motivado Pasteur a persistir na investigação no campo da microbiologia. Não pôde evitar a morte das suas filhas, mas o seu contributo para a diminuição da mortalidade a partir daí é indiscutível. Terá um dia dito que as crianças lhe inspiravam ternura, e podemos só imaginar a dor daquele pai perante a sua impotência, não obstante tudo o que deu ao mundo. 

E se dúvidas tivéssemos da sua sensibilidade, invoco aqui o artista que também foi, existindo na casa pelo menos duas pinturas da sua autoria. Aliás, antes das ciência, Pasteur terá feito um curso na área das letras. 

E o amor: Pasteur terá vivido uma verdadeira história de amor com a Marie, que viria a ser colaboradora de Pasteur nas suas investigações, concretamente no laboratório que montou na casa de Airbois, e que aí permanece, empoeirado mas a combater o esquecimento dos homens. Não se sabe bem até que ponto terá chegado esta colaboração, havendo até rumores de que o seu papel nas descobertas de Pasteur terá sido mais relevante do que (não) conta a história oficial. 

A casa está cheia de fotografias dos seus entes queridos, e diz-se que gostava muito de receber os seus amigos. A dimensão humana deste homem, que conhecemos tão bem dos livros da escola, respira-se em cada canto daqueles sucessivos espaços, agora desertos de vida. A resistência do jardim e a constância do rio que beija as paredes da casa lembram-nos que o tempo é relativo e que somos efémeros por contraste com o que permanece. Neste caso, permanece o bem que Pasteur trouxe à humanidade por contraste com a sua frágil condição de mortal, que também lá está, pendurada na parede de um dos quartos: a sua fotografia no leito da morte, tirada já depois do seu último suspiro, e os netos junto de si. 

Nota: também visitei hoje a cidadela de Bésançon, património da Unesco. Mas por agora a minha inspiração (entenda-se, coração)  é exclusivamente dedicada/o a Pasteur. 


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Point d'orgue de ma journée : la visite de la Maison Pasteur à Airbois, un très charmant village situé à environ 26 kilomètres de Champagnole. 

Louis Pasteur est né à Dole, un autre village situé non loin de là, également dans le département du Jura, mais ses parents ont déménagé à Airbois, dans cette même maison, près de la rivière Cuisance, alors que Pasteur n'avait que 8 ans. Il y vivra jusqu'à l'âge de 17 ans, puis partira étudier à Bésançon, ville qui sera également marquée par le passage de Pasteur, avec par exemple une école qui porte son nom. Il étudie ensuite à Dijon et à Paris. 

Ce que je veux vous dire de Pasteur n'a rien à voir avec ses exploits scientifiques, mais plutôt avec l'homme qui, par hasard, a même eu une sœur qui s'appelait Virginie; un homme avec un «cœur de chair», comme dirait Saramago, et comment il a dû saigner pendant qu'il existait, à commencer par la mort de trois de ses cinq enfants. La chambre de Cécile, morte à 12 ans dans cette maison, est l'une des pièces conservées dans la maison Airbois, où elle est retournée avec Marie en 1865, après la mort de ses parents. Louis et Marie avaient déjà perdu Jeanne et Camile, décédées respectivement à l'âge de 9 et 2 ans. Toutes les filles ont succombé à la fièvre typhoïde, ce qui a motivé Pasteur à poursuivre ses recherches dans le domaine de la microbiologie. Il n'a pas pu empêcher la mort de ses filles, mais sa contribution à la réduction de la mortalité à partir de ce moment-là est incontestable. Il a dit un jour que les enfants lui inspiraient de la tendresse, et on ne peut qu'imaginer la douleur de ce père face à son impuissance, malgré tout ce qu'il a donné au monde. 

Et si l'on avait des doutes sur sa sensibilité, j'aimerais mentionner l'artiste qu'il était, avec au moins deux tableaux de lui dans la maison. En effet, avant la science, Pasteur avait fait des études littéraires. 

Et l'amour : Pasteur a vécu une véritable histoire d'amour avec Marie, qui est devenue la collaboratrice de Pasteur dans ses recherches, notamment dans le laboratoire qu'il a installé dans la maison d'Airbois, et qui y demeure, poussiéreux mais luttant contre l'oubli des hommes. On ne sait pas très bien jusqu'où est allée cette collaboration, et on murmure même que son rôle dans les découvertes de Pasteur a été plus important que ne le dit (ne le dit pas) l'histoire officielle. 

La maison est remplie de photographies de ses proches, et l'on dit qu'il aimait recevoir ses amis. La dimension humaine de cet homme, que nous connaissons si bien par les livres d'école, est insufflée dans chaque recoin de ces espaces successifs, aujourd'hui désertés de vie. L'endurance du jardin et la constance de la rivière qui embrasse les murs de la maison nous rappellent que le temps est relatif et que nous sommes éphémères par rapport à ce qui reste. Dans ce cas, le bien que Pasteur a apporté à l'humanité demeure, contrairement à sa fragile condition de mortel, qui est aussi là, accrochée au mur de l'une des pièces : sa photo sur son lit de mort, prise après son dernier souffle, et ses petits-enfants à ses côtés. 

Note : aujourd'hui, j'ai également visité la citadelle de Bésançon, classée au patrimoine de l'UNESCO. Mais pour le moment, mon inspiration (c'est-à-dire, mon cœur) est exclusivement dédiée à Pasteur. 




sábado, 7 de setembro de 2024

Dream of everything

 

You′re not so all alone

You′re not so all alone

We're not so all alone

We will find a way


Just for you

The world is singing just for you

Just for you

The world is dreaming just for you

You can dream of everything

Always dream of everything


Iris Hond

https://www.youtube.com/watch?v=S4jYSQY54uQ


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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

A contemplação da vila | La contemplation de la ville

 



Hoje foi dia de palmilhar as ruas e avenidas da vila, de contemplar os seus lugares mais belos e de olhar para as suas pessoas. 

Sentei-me no jardim a contar, de olhos fechados, as folhas das árvores, a absorver o seu cheiro e a sentir bem por dentro o rumor dos seus beijos ao vento. Ao fundo, o timbre desconcertante e algo furioso do Rio Ain. 

Ainda no plano das contemplações, uns minutos diante do edifício onde nasci, na altura Clinique Saint-Joseph, agora Maison Saint-Joseph, uma residência para estudantes.

Muito importante: Fui à Mairie mesmo ali ao lado, e consegui a minha certidão de nascimento, com a hora do grande acontecimento! 

Conheci as livreiras da “Le Domaine des Murmures” (que nome poético!), que me aconselharam uma poeta francesa contemporânea, Lisette Lombé. Comprei dela o livro Brûler Brûler Brûler. “Oublie ceux qui te reluquent comme on reluque une folle./ Oublie ceux qui ne comprennent pas ta danse.”

Comprei ainda um outro livro, um policial que se passa em Champagnole: Des Torgnoles à Champangnole. Uma atitude de total compromisso da minha parte: quando voltar aqui, o meu francês tem de estar 90% melhor para assim estar aceitável. 

Conheci também Ninette Jeunet (Vetorello), uma artista plástica fenomenal e generosa. Conversámos, ofereceu-me uma pintura sua e combinamos que me visitará em Portugal. 

Amanhã prossigo a minha viagem por lagos e aldeias medievais. 


*


 Aujourd'hui, c'était le jour pour marcher dans les rues et les avenues de la ville, pour contempler ses plus beaux endroits et pour regarder ses habitants. 

Je me suis assise dans le jardin en comptant les feuilles des arbres, les yeux fermés, en absorbant leur parfum et en sentant monter en moi la rumeur de leurs baisers dans le vent. En arrière-plan, le timbre déconcertant et un peu furieux de la rivière d'Ain. 

Toujours en contemplation, quelques minutes devant l'immeuble qui m'a vu naître, puis la Clinique Saint-Joseph, aujourd'hui la Maison Saint-Joseph, une résidence étudiante. 

Très important : je suis allé à la mairie juste à côté et j'ai obtenu mon acte de naissance, avec l'heure du grand événement!

J'ai rencontré les libraires du Domaine des Murmures (quel nom poétique !), qui m'ont recommandé une poétesse française contemporaine, Lisette Lombé. J'ai acheté son livre Brûler Brûler Brûler. "Oublie ceux qui te reluquent comme on reluque une folle / Oublie ceux qui ne comprennent pas ta danse."

J'ai également acheté un autre livre, un roman policier qui se déroule à Champagnole : Des Torgnoles à Champangnole. Un engagement total de ma part: quand je reviendrai ici, mon français devra être amélioré de 90 % pour être acceptable. 

J'ai aussi rencontré Ninette Jeunet (Vetorello), une artiste phénoménale et généreuse. Nous avons bavardé, elle m'a offert une de ses peinture et nous avons convenu qu'elle me rendrait visite au Portugal. 

Demain, je continue mon voyage à travers les lacs et les villages médiévaux.


quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Hoje: o caminho e o encontro | Aujourd'hui : la route et la rencontre

                          

                                                              ___________

 
Deixei Prévissent bem cedo, separavam-me de Champagnole 90 km. 
Escolhi o caminho mais “difícil”, mas também o mais depurador e certamente o mais belo.  Fiz desvios e transformei 90 km em... 150, talvez. 
Confesso que apesar de todos os pressentimentos não estava preparada para tanto encanto. Atravessar as montanhas de Jura revelou-se de uma intensidade incrível, com a minha pequenez a evidenciar-se perante a sublime dimensão da natureza. Eu pequenina, num carro pequenino, a obedecer às curvas sinuosas e íngremes, a rasgar o nevoeiro, a amparar a chuva com a serenidade possível, a beber todo o verde denso e aceso da árvores, e a minha cabeça a povoar-se de metáforas, como se esta viagem se transfigurasse, de repente, por momentos, na história da minha vida. 
Parei em Saint Claude, visitei o  fantástico Musée de l'Abbaye, onde, entre outras alegrias, me encantei com a arte de Guy Bardone, pintor francês nascido naquela vila. 
Entrei na Igreja, e comovi-me. Tentei visitar a Cascata da Cauda do Cavalo, e estive muito perto, numa aventura memorável que não terminou com o objectivo cumprido. Mas pelo caminho encontrei outras cascatas, menores, talvez, mas não menos belas. 
E pelo final do dia, cheguei a um planalto muito verde, e lá estava: Champagnole, 2 km. 
Algumas nuvens desviaram-se, a murmurar umas para as outras que era necessário deixar passar alguns raios de sol, só por alguns minutos, porque a Virgínia estava a chegar (rio...).  E o verde iluminou-se ainda mais. 
E lá entrei devagarinho, na terra do meu nascimento, como numa cerimónia. Parei no primeiro espaço livre que encontrei. Olhei para o lado, e li: Bibliotheque. Pensei nas coincidências e imaginei mais metáforas. 
Cansada, bebi um bocadinho da vila, e recolhi-me à casa onde vou dormir nos próximos dias. 
Amanhã vou voltar para beber dela até cair para o lado. 

*


J'ai quitté Prévissent tôt le matin, 90 kilomètres me séparant de Champagnole. 
J'ai choisi la route la plus « difficile », mais aussi la plus purificatrice et certainement la plus belle.  J'ai fait des détours et transformé 90 kilomètres en... 150, peut-être. 
J'avoue que, malgré tous mes pressentiments, je n'étais pas préparée à tant d'enchantement. La traversée du Jura s'est révélée incroyablement intense, ma petitesse devenant évidente face à la dimension sublime de la nature. J'étais minuscule, dans une voiture minuscule, j'obéissais aux virages sinueux et raides, je déchirais le brouillard, je bravais la pluie le plus sereinement possible, je buvais tout le vert dense et lumineux des arbres, et j'avais la tête remplie de métaphores, comme si ce voyage était devenu, pour un instant, l'histoire de ma vie. 
Je me suis arrêtée à Saint-Claude, j'ai visité le fantastique musée de l'Abbaye, où, entre autres joies, je me suis émerveillée devant l'art de Guy Bardone, peintre français né dans cette ville. 
Je suis entré dans l'église et j'ai été ému. J'ai essayé de visiter la cascade de Cauda do Cavalo, et je suis passé tout près, dans une aventure mémorable qui ne s'est pas terminée avec l'objectif atteint. Mais en chemin, j'ai rencontré d'autres cascades, plus petites peut-être, mais non moins belles. 
Et vers la fin de la journée, j'ai atteint un plateau très vert, et là, c'était Champagnole, à 2 kilomètres. 
Quelques nuages sont passés, se murmurant qu'il fallait laisser passer quelques rayons de soleil, juste pour quelques minutes, car la Virginie arrivait (je ris...).  Et le vert s'est éclairé encore plus. 
Et là, j'ai pénétré lentement dans le endroit de ma naissance, comme dans une cérémonie. Je me suis arrêté au premier espace libre que j'ai trouvé. J'ai regardé autour de moi et j'ai lu: Bibliotheque. J'ai réfléchi aux coïncidences et imaginé d'autres métaphores. 
Fatigué, j'ai bu un peu du village et je suis rentré à la maison où je dormirai les prochains jours. 
Demain, je reviendrai et je boirai jusqu'à m'écrouler. 




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Referências/ Références: Parc naturel régional du Haut-Jura; Monts Jura; Musée de l'Abbaye; Saint Claude; Guy Bardone






quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Cheguei a Genebra | Je suis arrivé à Genève

 


Lac de Léman / Lac de Genève  


Cheguei a Genebra, cidade fronteiriça que beija França, ao de leve, com muita doçura. Entre outras osmoses geográficas, Genebra partilha com a França o Lago Léman (sendo parte dele conhecido como lago de Genebra); o rio Ródano (que atravessa aquele lago) e a cordilheira de Jura. Das outras osmoses, haverá tantas, mas escolho esta para deixar aqui registada porque hoje visitei o Muro dos Reformadores, no bonito parque dos Bastiões. Falo de João Calvino, pois claro, que nasceu em França no século XVI, mas que viveu em Genebra, cidade onde este monumento com 100 metros de comprimento lhe serve de homenagem, a ele e aos seus “cúmplices” Guilherme Farel, Teodoro de Beza e João Knox. 

Gosto de sonhar com um mundo onde as fronteiras são assim, fáceis e serenas, não obstante a preservação da fabulosa diversidade de identidades culturais que tornam este mundo uma manta de retalhos tão bela. 

Amanhã sigo para o meu “berço”. 


*


Je suis arrivée à Genève, une ville frontalière qui embrasse la France, légèrement, très doucement. Entre autres osmoses géographiques, Genève partage avec la France le lac Léman (dont une partie est connue sous le nom de lac de Genève), le fleuve Rhône (qui traverse le lac) et la chaîne de montagnes du Jura. Il y a tant d'autres osmoses, mais j'ai choisi celle-là pour la consigner ici, car j'ai visité aujourd'hui le Mur des Réformateurs dans le magnifique parc des Bastions. Je parle de Jean Calvin, bien sûr, qui est né en France au XVIe siècle, mais a vécu à Genève, où ce monument de 100 mètres lui rend hommage, ainsi qu'à ses «complices» William Farel, Théodore de Bèze et John Knox. 

J'aime rêver d'un monde où les frontières seraient ainsi, faciles et sereines, malgré la préservation de la fabuleuse diversité des identités culturelles qui font de ce monde un si beau patchwork. 

Demain, je repars pour mon « berceau ». 




Pormenor do Muro dos Reformadores | Détail du Mur des Réformateurs



domingo, 1 de setembro de 2024

Na borda destas águas mansas | Au bord de ces eaux calmes

 


Lac de Chalain (foto retirada da net)


Na borda destas águas mansas e imperturbáveis a minha certeza de já ter perdido tanta da ondulação da vida desenha-se perfeita e bem definida nas formas que fazem as sombras das árvores, tão firmes e seguras. Talvez tenha desejado demasiado ser como elas. A estabilidade dos largos troncos, a segurança das raízes, a constante verticalidade. Talvez me devesse ter sonhado pássaro, uma dessas criaturas enigmáticas que tanto admiro e que insistem em pousar-me, distraídas, nos galhos dos olhos, esses sim, inquietos, sempre à procura de uma certa altitude inacessível aos seres comuns como eu. 


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Au bord de ces eaux calmes et tranquilles, ma certitude d'avoir déjà raté tant d'ondulations de la vie est parfaitement et bien définie dans les formes que prennent les ombres des arbres, si fermes et si sûres. Peut-être ai-je trop voulu leur ressembler. La stabilité de leurs larges troncs, la sécurité de leurs racines, leur constante verticalité. Peut-être aurais-je dû me rêver oiseau, une de ces créatures énigmatiques que j'admire tant et qui s'obstinent à se poser distraitement sur les branches de mes yeux, qui s'agitent, toujours à la recherche d'une certaine altitude inaccessible aux créatures ordinaires comme moi. 


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Eu com a minha mãe, a minha tia e a minha avó no Lago de Chalain
Moi avec ma mère, ma tante et ma grand-mère au lac de Chalain
(1974)



Fazer da nostalgia um verbo | Faire de la nostalgie un verbe

   riviére Ain Sempre gostei de investigar as palavras.  Hoje andei com esta na cabeça, não me largou: nostalgia . Fui ver o seu significado...