riviére Ain
Sempre gostei de investigar as palavras. Hoje andei com esta na cabeça, não me largou: nostalgia.
Fui ver o seu significado ao dicionário. Sim, um pouco patético, todos sabemos o que é a nostalgia. Mas eu queria saber mais.
Constatei, como se fosse a primeira vez, que tem numa das suas acepções a concreta “tristeza profunda causada pelo afastamento da terra natal”. Depois de lida, esta especificidade pareceu-me tão óbvia que eu tinha de saber. E assomou-me à consciência um pouco de vergonha desta minha incurável incapacidade para memorizar conhecimentos tão importantes.
A sua origem etimológica remonta ao grego, resultando da junção dos étimos nóstos (regresso a casa, viagem) + álgos (dor). Viagem, afastamento, dor.
E ali estava eu, a despedir-me de todas as coisas que marcaram o meu nascimento e os meus dois primeiros anos de vida (a maternidade, a primeira casa, as primeiras montanhas, os primeiros rios, as primeiras pedras), e a ler coisas avulsas sobre a nostalgia: sobre como já foi considerada uma condição médica pela sua associação à melancolia; sobre como é abstracta e idealizada, por oposição à saudade; sobre como está associada a emissões sonoras de baixa frequência (espantoso!) e de como pode roçar a retrofilia, o que me pareceu bastante assustador, sendo que não é certamente deste tipo a minha nostalgia.
De repente, achei que podia escrever um tratado sobre este estado (quando aguda?) ou condição (quando crónica?). Reconstituir, até, a sua história no contexto da humanidade. Explorar o seu teor, destrinçá-lo, e distingui-la, por exemplo, da melancolia, essa “patologia” mais grave (?) de que também sofro.
Seja como for, o que sobra deste emaranhado de divagações é que a nostalgia (assim como a melancolia), não será para mim nunca um lugar de escuridão. Pode fazer-me rebentar em lágrimas, como foi o caso, mas o que fica depois é a luz de ter os olhos abertos e uma sensação de dever cumprido perante a urgência de cicatrizar os golpes da alma.
Portanto, oficializo hoje, para mim, a nostalgia como um verbo que arde e cura, e sempre que for preciso hei-de “nostalgicar”.
Nota final: amanhã não regresso a casa, serei apenas casa noutro lugar.
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J'ai toujours aimé faire des recherches sur les mots. Aujourd'hui, j'avais celui-ci en tête : nostalgie.
J'ai cherché sa signification dans le dictionnaire. Oui, c'est un peu pathétique, nous savons tous ce qu'est la nostalgie. Mais j'ai voulu en savoir plus.
J'ai réalisé, comme si c'était la première fois, que l'une de ses significations est la « profonde tristesse causée par l'éloignement de la patrie ». Après avoir lu cette spécificité, il m'a semblé évident que je devais savoir. Et j'ai eu un peu honte de mon incapacité incurable à mémoriser des connaissances aussi importantes.
Son origine étymologique remonte au grec, résultant de la combinaison des mots nóstos (retour, voyage) + álgos (douleur). Voyage, distance, douleur.
Et j'étais là, en train de dire adieu à tout ce qui avait marqué ma naissance et mes deux premières années de vie (a maternité, la première maison, les premières montagnes, les premières rivières et les premières pierres), et de lire des choses aléatoires sur la nostalgie : comment elle était autrefois considérée comme une condition médicale en raison de son association avec la mélancolie ; à quel point elle est abstraite et idéalisée, contrairement à la nostalgie ; comment elle est associée aux émissions sonores de basse fréquence (étonnant !) et comment elle peut être à la limite du rétrospectif. ) et qu'elle peut être à la limite de la rétrophilie, ce que j'ai trouvé assez effrayant, même si la nostalgie n'est certainement pas mon genre.
Soudain, je me suis dit que je pourrais écrire un traité sur cet état (lorsqu'il est aigu ?) ou cette condition (lorsqu'elle est chronique ?). Et même reconstituer son histoire dans le contexte de l'humanité. Explorer son contenu, le distinguer, par exemple, de la mélancolie, cette «pathologie» plus grave (?) dont je souffre aussi.
En tout cas, ce qui reste de ce fatras de divagations, c'est que la nostalgie (comme la mélancolie) ne sera jamais pour moi un lieu d'obscurité. Elle peut me faire fondre en larmes, comme ce fut le cas ici, mais ce qui reste après, c'est la lumière d'avoir les yeux ouverts et un sentiment de plénitude face à l'urgence de soigner les coups de l'âme.
Alors aujourd'hui, j'officialise la nostalgie comme un verbe qui brûle et qui guérit, et je «nostalgise» chaque fois que j'en ai besoin.
Note finale : je ne rentrerai pas chez moi demain, je serai simplement chez moi quelque part ailleurs.