domingo, 8 de setembro de 2024

Pasteur era humano | Pasteur était humain



 O ponto alto do meu dia: a visita à Maison Pasteur, em Airbois, uma vila muito catita a cerca de 26 km de Champagnole. 

Louis Pasteur nasceu em Dole, numa outra vila, não muito distante, também no departamento de Jura, mas os pais mudaram-se para Airbois, para aquela mesma casa, contígua ao rio Cuisance, quando Pasteur tinha apenas 8 anos. Aí viveu até aos 17, tendo saído para estudar em Bésançon, cidade que também ficaria marcada pela passagem de Pasteur, existindo lá, por exemplo, uma escola com o seu nome. Prosseguiu depois os estudos em Dijon e Paris. 

O que quero dizer-vos sobre Pasteur não tem nada que ver com os seus feitos enquanto cientista, quero antes falar-vos do homem que, por acaso, até tinha uma irmã chamada Virginie; um homem com um “coração de carne”, como diria Saramago, e como terá sangrado enquanto existiu, desde logo pela morte de três dos seus cinco filhos. O quarto de Cécile, que faleceu com 12 anos já naquela casa, é um dos compartimentos que permanecem preservados na casa de Airbois, para onde regressou com Marie em 1865, depois da morte dos pais. Nessa altura, Louis e Marie haviam já perdido Jeanne e Camile, que faleceram com 9 e 2 anos respectivamente. Todas as meninas sucumbiram à febre tifóide, o que terá motivado Pasteur a persistir na investigação no campo da microbiologia. Não pôde evitar a morte das suas filhas, mas o seu contributo para a diminuição da mortalidade a partir daí é indiscutível. Terá um dia dito que as crianças lhe inspiravam ternura, e podemos só imaginar a dor daquele pai perante a sua impotência, não obstante tudo o que deu ao mundo. 

E se dúvidas tivéssemos da sua sensibilidade, invoco aqui o artista que também foi, existindo na casa pelo menos duas pinturas da sua autoria. Aliás, antes das ciência, Pasteur terá feito um curso na área das letras. 

E o amor: Pasteur terá vivido uma verdadeira história de amor com a Marie, que viria a ser colaboradora de Pasteur nas suas investigações, concretamente no laboratório que montou na casa de Airbois, e que aí permanece, empoeirado mas a combater o esquecimento dos homens. Não se sabe bem até que ponto terá chegado esta colaboração, havendo até rumores de que o seu papel nas descobertas de Pasteur terá sido mais relevante do que (não) conta a história oficial. 

A casa está cheia de fotografias dos seus entes queridos, e diz-se que gostava muito de receber os seus amigos. A dimensão humana deste homem, que conhecemos tão bem dos livros da escola, respira-se em cada canto daqueles sucessivos espaços, agora desertos de vida. A resistência do jardim e a constância do rio que beija as paredes da casa lembram-nos que o tempo é relativo e que somos efémeros por contraste com o que permanece. Neste caso, permanece o bem que Pasteur trouxe à humanidade por contraste com a sua frágil condição de mortal, que também lá está, pendurada na parede de um dos quartos: a sua fotografia no leito da morte, tirada já depois do seu último suspiro, e os netos junto de si. 

Nota: também visitei hoje a cidadela de Bésançon, património da Unesco. Mas por agora a minha inspiração (entenda-se, coração)  é exclusivamente dedicada/o a Pasteur. 


*


Point d'orgue de ma journée : la visite de la Maison Pasteur à Airbois, un très charmant village situé à environ 26 kilomètres de Champagnole. 

Louis Pasteur est né à Dole, un autre village situé non loin de là, également dans le département du Jura, mais ses parents ont déménagé à Airbois, dans cette même maison, près de la rivière Cuisance, alors que Pasteur n'avait que 8 ans. Il y vivra jusqu'à l'âge de 17 ans, puis partira étudier à Bésançon, ville qui sera également marquée par le passage de Pasteur, avec par exemple une école qui porte son nom. Il étudie ensuite à Dijon et à Paris. 

Ce que je veux vous dire de Pasteur n'a rien à voir avec ses exploits scientifiques, mais plutôt avec l'homme qui, par hasard, a même eu une sœur qui s'appelait Virginie; un homme avec un «cœur de chair», comme dirait Saramago, et comment il a dû saigner pendant qu'il existait, à commencer par la mort de trois de ses cinq enfants. La chambre de Cécile, morte à 12 ans dans cette maison, est l'une des pièces conservées dans la maison Airbois, où elle est retournée avec Marie en 1865, après la mort de ses parents. Louis et Marie avaient déjà perdu Jeanne et Camile, décédées respectivement à l'âge de 9 et 2 ans. Toutes les filles ont succombé à la fièvre typhoïde, ce qui a motivé Pasteur à poursuivre ses recherches dans le domaine de la microbiologie. Il n'a pas pu empêcher la mort de ses filles, mais sa contribution à la réduction de la mortalité à partir de ce moment-là est incontestable. Il a dit un jour que les enfants lui inspiraient de la tendresse, et on ne peut qu'imaginer la douleur de ce père face à son impuissance, malgré tout ce qu'il a donné au monde. 

Et si l'on avait des doutes sur sa sensibilité, j'aimerais mentionner l'artiste qu'il était, avec au moins deux tableaux de lui dans la maison. En effet, avant la science, Pasteur avait fait des études littéraires. 

Et l'amour : Pasteur a vécu une véritable histoire d'amour avec Marie, qui est devenue la collaboratrice de Pasteur dans ses recherches, notamment dans le laboratoire qu'il a installé dans la maison d'Airbois, et qui y demeure, poussiéreux mais luttant contre l'oubli des hommes. On ne sait pas très bien jusqu'où est allée cette collaboration, et on murmure même que son rôle dans les découvertes de Pasteur a été plus important que ne le dit (ne le dit pas) l'histoire officielle. 

La maison est remplie de photographies de ses proches, et l'on dit qu'il aimait recevoir ses amis. La dimension humaine de cet homme, que nous connaissons si bien par les livres d'école, est insufflée dans chaque recoin de ces espaces successifs, aujourd'hui désertés de vie. L'endurance du jardin et la constance de la rivière qui embrasse les murs de la maison nous rappellent que le temps est relatif et que nous sommes éphémères par rapport à ce qui reste. Dans ce cas, le bien que Pasteur a apporté à l'humanité demeure, contrairement à sa fragile condition de mortel, qui est aussi là, accrochée au mur de l'une des pièces : sa photo sur son lit de mort, prise après son dernier souffle, et ses petits-enfants à ses côtés. 

Note : aujourd'hui, j'ai également visité la citadelle de Bésançon, classée au patrimoine de l'UNESCO. Mais pour le moment, mon inspiration (c'est-à-dire, mon cœur) est exclusivement dédiée à Pasteur. 




2 comentários:

  1. Gostei do que escreveste sobre Pasteur. Há realmente pessoas assim, com uma enorme dimensão humana que nos mostram o melhor que o ser humano possui. Obrigada e tudo a correr maravilhosamente.
    Um beijo.

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