quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Hoje: o caminho e o encontro | Aujourd'hui : la route et la rencontre

                          

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Deixei Prévissent bem cedo, separavam-me de Champagnole 90 km. 
Escolhi o caminho mais “difícil”, mas também o mais depurador e certamente o mais belo.  Fiz desvios e transformei 90 km em... 150, talvez. 
Confesso que apesar de todos os pressentimentos não estava preparada para tanto encanto. Atravessar as montanhas de Jura revelou-se de uma intensidade incrível, com a minha pequenez a evidenciar-se perante a sublime dimensão da natureza. Eu pequenina, num carro pequenino, a obedecer às curvas sinuosas e íngremes, a rasgar o nevoeiro, a amparar a chuva com a serenidade possível, a beber todo o verde denso e aceso da árvores, e a minha cabeça a povoar-se de metáforas, como se esta viagem se transfigurasse, de repente, por momentos, na história da minha vida. 
Parei em Saint Claude, visitei o  fantástico Musée de l'Abbaye, onde, entre outras alegrias, me encantei com a arte de Guy Bardone, pintor francês nascido naquela vila. 
Entrei na Igreja, e comovi-me. Tentei visitar a Cascata da Cauda do Cavalo, e estive muito perto, numa aventura memorável que não terminou com o objectivo cumprido. Mas pelo caminho encontrei outras cascatas, menores, talvez, mas não menos belas. 
E pelo final do dia, cheguei a um planalto muito verde, e lá estava: Champagnole, 2 km. 
Algumas nuvens desviaram-se, a murmurar umas para as outras que era necessário deixar passar alguns raios de sol, só por alguns minutos, porque a Virgínia estava a chegar (rio...).  E o verde iluminou-se ainda mais. 
E lá entrei devagarinho, na terra do meu nascimento, como numa cerimónia. Parei no primeiro espaço livre que encontrei. Olhei para o lado, e li: Bibliotheque. Pensei nas coincidências e imaginei mais metáforas. 
Cansada, bebi um bocadinho da vila, e recolhi-me à casa onde vou dormir nos próximos dias. 
Amanhã vou voltar para beber dela até cair para o lado. 

*


J'ai quitté Prévissent tôt le matin, 90 kilomètres me séparant de Champagnole. 
J'ai choisi la route la plus « difficile », mais aussi la plus purificatrice et certainement la plus belle.  J'ai fait des détours et transformé 90 kilomètres en... 150, peut-être. 
J'avoue que, malgré tous mes pressentiments, je n'étais pas préparée à tant d'enchantement. La traversée du Jura s'est révélée incroyablement intense, ma petitesse devenant évidente face à la dimension sublime de la nature. J'étais minuscule, dans une voiture minuscule, j'obéissais aux virages sinueux et raides, je déchirais le brouillard, je bravais la pluie le plus sereinement possible, je buvais tout le vert dense et lumineux des arbres, et j'avais la tête remplie de métaphores, comme si ce voyage était devenu, pour un instant, l'histoire de ma vie. 
Je me suis arrêtée à Saint-Claude, j'ai visité le fantastique musée de l'Abbaye, où, entre autres joies, je me suis émerveillée devant l'art de Guy Bardone, peintre français né dans cette ville. 
Je suis entré dans l'église et j'ai été ému. J'ai essayé de visiter la cascade de Cauda do Cavalo, et je suis passé tout près, dans une aventure mémorable qui ne s'est pas terminée avec l'objectif atteint. Mais en chemin, j'ai rencontré d'autres cascades, plus petites peut-être, mais non moins belles. 
Et vers la fin de la journée, j'ai atteint un plateau très vert, et là, c'était Champagnole, à 2 kilomètres. 
Quelques nuages sont passés, se murmurant qu'il fallait laisser passer quelques rayons de soleil, juste pour quelques minutes, car la Virginie arrivait (je ris...).  Et le vert s'est éclairé encore plus. 
Et là, j'ai pénétré lentement dans le endroit de ma naissance, comme dans une cérémonie. Je me suis arrêté au premier espace libre que j'ai trouvé. J'ai regardé autour de moi et j'ai lu: Bibliotheque. J'ai réfléchi aux coïncidences et imaginé d'autres métaphores. 
Fatigué, j'ai bu un peu du village et je suis rentré à la maison où je dormirai les prochains jours. 
Demain, je reviendrai et je boirai jusqu'à m'écrouler. 




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Referências/ Références: Parc naturel régional du Haut-Jura; Monts Jura; Musée de l'Abbaye; Saint Claude; Guy Bardone






1 comentário:

  1. Maravilhoso, ao ler o teu diário revi-me nessas nessas paisagens, lindíssimas, que ficam para sempre na memória de quem as viu, saudades❤️

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